ENTREVISTA COM ADRIANO SIRI, MÚSICO E INTEGRANTE DO FINO COLETIVO
Um dos fundadores do Fino Coletivo, o músico fala da dinâmica da banda e do caminho trilhado até seu CD solo
O Fino Coletivo havia lançado o último disco em 2010. Voltam agora com um álbum mais leve, ou mais limpo, que explora bastante o reggae e o samba, dentro da sonoridade. Como vocês enquadram esse disco dentro do caminho estético do Fino?
Esteticamente falando, esse disco ("Massagueira") já se diferencia dos outros trabalhos pelo fato de não ter o elemento eletrônico, que estava mais evidenciado nos outros dois discos ("Fino Coletivo", de 2007, e "Copacabana", de 2010). Optamos pela sonoridade mais orgânica, para aproveitar o entrosamento que o conjunto adquiriu ao longo desses nove anos de estrada. A entrada do Dinho (Zampier, tecladista alagoano que toca com Wado e em inúmeras outras bandas em Alagoas) influenciou nessa sonoridade, de um tipo de samba que não é samba e de um reggae que não é reggae. São tipos de samba e reggae bem característicos de Alagoas.
O grupo nasceu com essa natureza de ser uma reunião de artistas com indenidades fortes, alguns com carreiras paralelas, unindo em um projeto diferentes compositores e intérpretes. Por que, você, enquanto um destes compositores, só agora resolveu estrear em disco solo?
Na verdade, comecei a tocar, sempre em bandas, em 1995. A primeira era uma banda de hardcore, chamada Kerrenka, que durou até 1999. Logo em seguida, entrei em outra banda, chamada Santo Samba, que originalmente foi fundada pelo Wado. Essa banda durou até 2004. Lançamos três EPs, que tiveram repercussão nacional, e participamos ativamente da cena musical de Alagoas, entre os anos de 2001 e 2004. Ela teve seu fim nesse mesmo ano e ficou com um disco de 10 faixas inacabado. Nesse mesmo ano, lancei um trabalho chamado "Relatos do Tempo", com a banda Cabeça Cheia. Fiz alguns shows desse disco, incluindo participação num festival chamado Palco Aberto. Passando para o ano de 2005, fui para o Rio de Janeiro passar umas férias. Wado e Alvinho Cabral já moravam no Rio de Janeiro, logo na minha chegada conheci o Marcelo Frota (Momo) e, em seguida, o Alvinho Lancellotti: estava formado o Fino Coletivo! Em poucos meses estava trabalhando numa produtora de vídeo de um amigo do Lancellotti. Trabalhei de garçom, de ajudante de equipamentos de som (carregando caixas gigantes de som), de assistente de gravação de vídeo... Depois comecei a fazer edição de vídeo, e trabalhei em outra produtora, que terceirizava equipamentos para as TVs Globo e para a Record. Então trabalhei fazendo microcâmera para a Globo e para a Record em diversas novelas, por mais de dois anos. E tudo isso paralelamente ao trabalho com o Fino Coletivo.
E quando apareceu a carreira solo?
Em 2010, a gravadora Dubas me convidou para gravar um disco solo, mas ainda havia a questão dos meus trabalhos e o Fino Coletivo estava fazendo o "Copacabana". Aos poucos, pude ir deixando os trabalhos paralelos para me dedicar totalmente à minha musica. Mas foi um processo demorado de idas e vindas. Começou a se solidificar apenas em 2012. Com a ajuda do Daniel Medeiros, Rodrigo Buzum, Marcelo Lima, Gabriela Rodríguez, Ronaldo Bastos e Leo Pereda, o projeto enfim tomou forma e, em 2014, o disco nasceu.
Tanto com o Fino, como no solo, há uma fusão de ritmos, com referências de afoxé, samba, rock, baião. Mas no seu álbum, tem uma pegada bem diferente. Como é que você, enquanto compositor e interprete, divide isso?
No caso especifico do Fino Coletivo é mais fácil de se imaginar essa miscigenação de sons pelo fato de sermos cinco caras e cada um ter influências musicais, que são parecidas até certo ponto, mas também diferentes. Trocamos ideias em conjunto e definimos o que é melhor para cada canção. Já no meu caso, o caminho é um pouco mais intrincado, é mais difícil do que estar com a banda, pelo fato de ser eu quem toma as decisões e, como em todo trabalho, há acertos e erros, convicções sólidas e outras mutáveis... O meu trabalho é solo, mas também é coletivo, porque abri espaço para pessoas opinarem sobre as canções. Mesmo assim encontrei dificuldades para produzir, ser o técnico de som, o arranjador e músico. Acordava, às vezes, às 3 horas da manhã para gravar. Gravei o disco no meu quarto, isso facilitou bastante criando uma atmosfera mais intima pro disco, mas no começo tinha algumas dúvidas sobre a sonoridade. Mesmo gostando do som, você nunca tem 100% de certeza, e na verdade acho até ruim ser assim, é bom aprender a ouvir e compartilhar informações. E a proposta do trabalho é isso que o disco é, a mistura dos sons, dos ritmos, das cores, das crenças, cultivando o amor mesmo onde haja tristeza, e acreditando que as pessoas podem ser melhores do que acreditam que são com o próximo.
Fábio Marques Repórter