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Release

Adriano Siri – Olha que lindo (Pimba)

Por Fernando Coelho

Adriano Siri vendeu o violão para comprar a passagem que o levou de Maceió ao Rio de Janeiro.

Na estrada, o ônibus capotou. Por sorte, o acidente deixou marcas apenas na lembrança e o baque antes da chegada não o abateu. De todo modo, não havia mais volta ­ o bilhete era só de ida! Incólume e determinado, o artista retirante seguiu rumo ao que parecia ser o melhor caminho para continuar a fazer o que mais sabe: compor canções.

E foi assim ­ sem instrumento e sem documento ­ que, no início de 2005, o músico começou a nova fase da carreira iniciada em terra natal. A apresentação à capital carioca pulou a badalação da Zona Sul.

Antes de subir na vida, foi preciso subir o morro. E no Jacaré, o Siri encontrou abrigo e fez morada.

Com jeito boa praça, de conversa fácil e dezenas de boas músicas sob o braço, não demorou a o bom malandro atravessar o túnel e se enturmar com uma nova geração de compositores que rondavam por Copacabana. O encontro era inusitado e reunia velhos amigos das Alagoas que estavam no mesmo barco, com novos colegas em busca de afirmação no circuito musical nacional. Todo mundo gente fina. Nasceu o Fino Coletivo.

O grupo foi vitrine para o talento de cinco compositores. Ao lado de Alvinho Lancellotti, Momo, Wado e Alvinho Cabral, Adriano Siri integrou a banda que já lançou três discos, ganhou diversos prêmios importantes e vem aumentando a legião de fãs conquistada por todo o Brasil com uma sonoridade bem situada no que se convencionou chamar "nova música popular brasileira".

Agora, Siri apresenta sua faceta solo em Olha que lindo , disco lançado pela gravadora Pimba a partir de proposta feita pelo proprietário Ronaldo Bastos ­ letrista de clássicos da MPB e entusiasta da música produzida por compositores alagoanos, como Wado, Alvinho Cabral e o próprio Adriano Siri.

Inicialmente em versão exclusiva digital, disponível para iTunes, Olha que lindo traz um

apanhado de composições e até de gravações registradas ao longo dos últimos dez anos. Desde a estreia profissional com a banda alagoana Santo Samba às parcerias com Wado (Fafá, Melhor, Fortalece Aí e Amor e Restos Humanos são assinadas pelos dois compositores) e rebentos da própria lavra, o álbum reúne a diversidade autoral de um compositor que passeia e mistura com naturalidade samba , pop, psicodelia e outros balanços.

Com todo mundo...

A estreia de Adriano Siri é solo por conceito. Na prática, a lista de músicos que participam de Olha que lindo contribui para o resultado final eclético, porém coeso. Além das vozes, o autor pilotou o baixo, o violão, a guitarra, os teclados e as percussões na maioria das faixas.

A abertura com Ilusão, parceria com Caetano Malta (ex­Wado e Realismo Fantástico) traz os vocais de Guidi Vieira e a bateria de Anderson Maia "Cachão". A candidata a hit Os olhos Dela e o pop preguiçoso Elefante retiram o guitarrista Eduardo Quintela ­ da extinta banda alagoana Living in the Shit ­ da hibernação.

Em Apartamento, parceria inédita com Wado, as presenças luxuosas ficam a cargo do guitarrista João Paulo e do baixista Jr. Beatle, ambos de outra renomada banda alagoana, o Mopho. O xote psicodélico Em Tuas Mãos reúne Alexandre Pires (zabumba), Gabriel Taruk (baixo e guitarra), Paulo Carvalho (violão e guitarra), Sandrinho (sax) e Rodrigo Buzum (programações).

Do Fino Coletivo, Rodrigo Scofield (bateria) e Daniel Medeiros (baixo, guitarra e programações) aparecem, respectivamente, em Circulares e Outro Dia. O disco contem três pérolas do período

do Santo Samba, em registros que contam com a participação de integrantes do extinto grupo.

...pra o mundo todo

No florido caminho que leva dos Beach Boys a Jorge Benjor, Adriano Siri colhe os melhores frutos para semear a promessa de uma safra com assinatura singular. Do samba rock melancólico de Ilusão ao superastral dançante de Os olhos Dela, da bossa­cabaré Carrega à sofisticação psicodélica de Papai e Mamãe, Siri mostra ao mundo que sua música pode ser para todos.

Na poesia, a paleta de tons é inusitada e surpreende com tiradas ora espertas ora singelas. Por exemplo, quando o tema é a ilusão, o clima pode ser de esperança. A celebração da alegria pode vir como a mesma força que busca compreender a perda.

Conta Comigo e Amor e Restos Humanos, colocam frente a frente os lados opostos das coisas do coração. Enquanto a primeira mostra o acalento do ombro amigo e do peito aberto numa declaração cheia de sutilezas, a segunda é a faca na carne ­ "Sinto não sentir mais do que um abismo entre nós", canta , como determinasse o doloroso desfecho de uma relação.

Das relações humanas para a relação consigo mesmo. "Se eu fosse um elefante / Esmagaria essa dor", diz a genial letra de Elefante, que equilibra na medida o peso do pop numa balança e o do rock na outra.

Circulares é uma declaração de amor explícita aos Beach Boys, com camadas de vocais e

arranjo ritmíco a lá Pet Sounds.

Por fim, Outro Dia sintetiza uma mensagem recorrente na poesia de Adriano Siri: a vida não precisa ser encarada como um acúmulo de perdas e conquistas, mas sim, como a celebração de momentos e o encarar das consequências de suas próprias escolhas.

[SERVIÇO]

Artista: Adriano Siri

Disco: Olha que lindo

Gravadora: Pimba

Ano: 2014


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